O
exagero na hora de pedir exames pode estar causando mais males do que
benefícios para os pacientes. O alerta é dado por especialistas que já cunharam
um termo para esse cenário – é o overdiagnosis.
O conceito foi traduzido ao pé
da letra para o português. Aqui, ganhou o nome de superdiagnóstico.
A
situação é preocupante, pessoas estão ficando doentes e até morrendo enquanto
profissionais médicos se orgulham de ter descoberto uma doença precocemente e iniciado
o tratamento a todo custo, alerta o professor do Dartmouth Institute for Health
Policy e autor do livro “Overdiagnosed: Making People Sick in the Pursuit of
Health, H. Gilbert Welch. “O título da obra é o resumo da situação verificada
por ele. Pacientes estão adoecendo enquanto, no pleno exercício da atividade
médica, busca-se a saúde.
Há um cenário complexo com vários culpados. Alguns médicos têm receio de
sofrerem processos e preferem pedir mais exames e iniciar o tratamento o quanto
antes, do que esperar a evolução do quadro clínico. Por outro lado, muitas
empresas do setor de saúde vendem o diagnóstico como algo milagroso e não
informam que é preciso que um bom profissional faça cruzamentos de informações
e cálculos probabilísticos. Além disso a mídia exalta equipamentos e técnicas
de forma espetaculosa e algumas pessoas simplesmente se envolvem em toda essa
situação sem muitas informações sobre sua doença e tratamento.
Vários tipos de câncer são
enquadrados na situação de superdiagnóstico. A mamografia é um exemplo, segundo
os críticos, as mulheres estão sendo levadas a um clima de pânico ao menor
ponto mostrado no exame. Com isso, são tratadas de maneira urgente quando
deveriam gastar mais tempo analisando o nódulo e todas as probabilidades e
informações disponíveis para a certeza do que fazer e quando. Outros são
submetidos à radiação, cirurgias complicadas e remédios com graves efeitos
colaterais antes mesmo de terem um sintoma da doença.
Alguns
tipos de câncer, quando diagnosticados e tratados de forma precoce, podem
comprometer a própria recuperação do paciente, é um
contrassenso que a busca da solução traga mais problemas para os pacientes.
Câncer
de tireóide, de próstata e melanoma também caem nesse quadro de exagero precoce
e prejudicial ao paciente. O mais recente alvo de quem alerta para o
superdiagnóstico é o déficit de atenção (DDAH). Um estudo da University of
British Columbia, com crianças em idade escolar, trouxe à tona dados que podem
mostrar que há confusão entre comportamento imaturo e doença.
A
pesquisa comparou alunos nascidos em dezembro e janeiro do mesmo ano na mesma
fase escolar. O resultado mostrou que os mais novos têm 39% de chances a mais
de serem diagnosticados com déficit de atenção do que os por meses mais velhos.
E 48% daquele grupo será provavelmente tratado com medicamentos que, usados de
forma exagerada e incorreta, podem trazer problemas futuros para quem está no
estágio inicial da vida.
O
superdiagnóstico existe e o quadro é grave , embora seja algo que ainda não se
tem certeza do tamanho do problema no Brasil . A discussão sobre isso é
necessária, o
deslumbramento com novidades e tecnologias da indústria não está agregando
saúde ao paciente. Para reverter essa situação, muita coisa precisaria mudar.
Todos estarão em busca de uma cura para esse quadro de exagero
de diagnóstico que parece endêmico. Os caminhos traçados provavelmente serão os
que apontam para o bom aproveitamento da evolução das técnicas e tecnologias de
diagnóstico. E, claro, para a saúde do paciente.
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