sábado, 22 de março de 2014

PREVENINDO A OVERDIAGNOSIS ...

O exagero na hora de pedir exames pode estar causando mais males do que benefícios para os pacientes. O alerta é dado por especialistas que já cunharam um termo para esse cenário – é o overdiagnosis. 
O conceito foi traduzido ao pé da letra para o português. Aqui,  ganhou o nome de superdiagnóstico. 
A situação é preocupante, pessoas estão ficando doentes e até morrendo enquanto profissionais médicos se orgulham de ter descoberto uma doença precocemente e iniciado o tratamento a todo custo, alerta o professor do Dartmouth Institute for Health Policy e autor do livro “Overdiagnosed: Making People Sick in the Pursuit of Health, H. Gilbert Welch. “O título da obra é o resumo da situação verificada por ele. Pacientes estão adoecendo enquanto, no pleno exercício da atividade médica, busca-se a saúde.
Há um cenário complexo com vários culpados. Alguns médicos têm receio de sofrerem processos e preferem pedir mais exames e iniciar o tratamento o quanto antes, do que esperar a evolução do quadro clínico. Por outro lado, muitas empresas do setor de saúde vendem o diagnóstico como algo milagroso e não informam que é preciso que um bom profissional faça cruzamentos de informações e cálculos probabilísticos. Além disso a mídia exalta equipamentos e técnicas de forma espetaculosa e algumas pessoas simplesmente se envolvem em toda essa situação sem muitas informações sobre sua doença e tratamento.
Vários tipos de câncer são enquadrados na situação de superdiagnóstico. A mamografia é um exemplo, segundo os críticos, as mulheres estão sendo levadas a um clima de pânico ao menor ponto mostrado no exame. Com isso, são tratadas de maneira urgente quando deveriam gastar mais tempo analisando o nódulo e todas as probabilidades e informações disponíveis para a certeza do que fazer e quando. Outros são submetidos à radiação, cirurgias complicadas e remédios com graves efeitos colaterais antes mesmo de terem um sintoma da doença.
Alguns tipos de câncer, quando diagnosticados e tratados de forma precoce, podem comprometer a própria recuperação do paciente, é um contrassenso que a busca da solução traga mais problemas para os pacientes.
Câncer de tireóide, de próstata e melanoma também caem nesse quadro de exagero precoce e prejudicial ao paciente. O mais recente alvo de quem alerta para o superdiagnóstico é o déficit de atenção (DDAH). Um estudo da University of British Columbia, com crianças em idade escolar, trouxe à tona dados que podem mostrar que há confusão entre comportamento imaturo e doença.
A pesquisa comparou alunos nascidos em dezembro e janeiro do mesmo ano na mesma fase escolar. O resultado mostrou que os mais novos têm 39% de chances a mais de serem diagnosticados com déficit de atenção do que os por meses mais velhos. E 48% daquele grupo será provavelmente tratado com medicamentos que, usados de forma exagerada e incorreta, podem trazer problemas futuros para quem está no estágio inicial da vida.
O superdiagnóstico existe e o quadro é grave , embora seja algo que ainda não se tem certeza do tamanho do problema no Brasil . A discussão sobre isso é necessária, o deslumbramento com novidades e tecnologias da indústria não está agregando saúde ao paciente. Para reverter essa situação, muita coisa precisaria mudar.
Todos estarão em busca de uma cura para esse quadro de exagero de diagnóstico que parece endêmico. Os caminhos traçados provavelmente serão os que apontam para o bom aproveitamento da evolução das técnicas e tecnologias de diagnóstico. E, claro, para a saúde do paciente.

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